segunda-feira, 31 de outubro de 2011

4. Corpo

 
4.
Corpo
 
 
Por que será que todos os livros que tratam do tema ‘corpo humano’ mostram exclusivamente corpos brancos? Será que os negros são diferentes por dentro ou é apenas uma questão de preconceito por parte dos livros? A fim de descobrir se os brancos diferem anatomicamente dos negros, fizemos uma série de radiografias cujos ‘pacientes’ eram um negro e um branco. Estes raios x foram mostrados para pessoas que circulavam num determinado centro cultural e que deveriam identificar a cor das pessoas radiografadas. Adivinha o que elas responderam?
 
Um rapaz branco disse que “não tem como ver a pele da pessoa porque um raio x é uma fotografia de ossos”. Outro rapaz com a pele bem clara também comentou que era impossível definir porque “a única diferença entre ambas as raças é a melanina”. Uma moça branca reconheceu que “não tem como saber a cor”. Muito bem. Um jovem branco, no entanto, ponderou que um “nariz largo pode ser afro” diante de um raio x e houve uma mulher negra que arriscou um palpite: “Acho que essa chapa é de uma pessoa branca por causa da mandíbula afilada”.
 
Dois pulmões, um fígado, um estômago, um coração, a mesma quantidade de ossos. Tudo que existe no corpo de um branco também pode ser encontrado no corpo de um negro. Daí a dificuldade das pessoas em identificar, a partir de uma radiografia, qual a etnia do dono dos ossos fotografados. Esta mesma pesquisa poderia ter sido feita com amostras de sangue porque as respostas seriam as mesmas. Isso porque negros, brancos, pardos e até albinos fazem parte de uma única espécie: a humana.
 
Se não há diferenças por dentro, como explicar as diferenças que vemos por fora? Na cor da pele e na textura do pelos de todos os seres humanos há um pigmento amarelo-escuro chamado melanina, que é produzido com a função de nos proteger dos raios solares. Na presença de grande concentração de melanina, a pele humana adquire uma tonalidade marrom ou preta. Em baixas quantidades, a pele assume um tom branco-rosado.
 
Portanto, a única diferença entre negros e brancos está na variação da quantidade de uma substância. É ou não é um motivo muito pequeno, que não justifica as grandes diferenças sociais entre as duas raças? “Aqui no Brasil, o preconceito é de marca, não de origem. Então, são seus traços, seu cabelo, a cor da sua pele, as linhas do seu rosto que indicam que você é negro e é essa a marca que propicia a discriminação”, explica Maria Aparecida Bento, doutora em psicologia e diretora do Centro de Estudos da Relação de Trabalho e Desigualdade (CEERT).
 
Para saber mais

Corpo: Território da cultura
Maria Lúcia Bueno e Ana Lúcia de Castro (Org.)
Annablume, 2005


Jóias de Axé – Fios-de-contas e outros adornos do corpo – A joalheria afro-brasileira
Raul Lody
Bertrand Brasil, 2001


O que é racismo?
Joel Rufino
Brasilense, 1985


Tornar-se negro
Neuza Santos Souza
Graal, 1983


O jogo das diferenças
Luiz Alberto Oliveira Gonçalves e Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva
Belo Horizonte: Autêntica, 1998


Racista, eu? De jeito nenhum...
Mauricio Pestana
Escala, 2004


Raça como retórica – A construção da diferença
Yvonne Maggie e Claudia Barcelos Rezende (Org.)
Civilização Brasileira, 2002


A persistência da raça – Ensaios antropológicos sobre o Brasil e a África Austral
Peter Fly
Civilização Brasileira, 2005


O sortilégio da cor – Identidade, raça e gênero no Brasil
Elisa Larkin Nascimento
Selo Negro, 2003


A invenção do ser-negro – Um percurso das idéias que naturalizaram a inferioridade dos negros
Gislene Aparecida dos Santos
Pallas, 2002

 

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